domingo, julio 24, 2005

A miopia de Sofia

Querida Luciana,

Estou sem rumo. Antonio reapareceu. Acreditava que essa historia tinha terminado e eis que ele volta, dizendo coisas, remexendo em pontos que na verdade ainda estão aqui. Estava tudo latente. Semente. Só esperando terra, água e luz para nascer. E Antonio, minha querida, é tudo isso. Imagine você que até o meu corpo estava adormecido em mim. Saí para dançar outro dia e estava a dança aqui, querendo, querendo, aprisionada em meu próprio corpo. Dancei sem parar e ao chegar em casa adormeci desamparada. E me angustia a idéia de que não existe nada depois dessa passagem, desse lugar. E eu? E Antonio? Ah, minha querida, estou cheia de vontades e medos. Não é propriamente o Antonio de carne e osso que me desperta, mas a idéia do que Antonio é, do que ele poderia ter sido. A idéia, Luciana, movente em mim, a idéia que me coloca a procurar Antonios em todos os lugares. Se eles, que não se encontram Antonio, percebem, logo escapam. E eu que já fui Mirela, Mariana, Raquel, Aline e o diabo a quatro para tantos deles e eles os meus Antonios. Não existe a menor comunicação, minha querida. Não existe, Luciana. E existiu também uma época em que eu morria de medo de não ser compreendida. E de fato ninguém o é. Eu sei que não devia estar escrevendo nada disso, eu sei que estou despertando em mim a minha própria fúria. Mas já é inevitável. Porque Antonio é isso: uma vontade de ter o impossível, o que se perdeu sem nunca se ter, o que não volta, não volta e não volta. E para objetificar a pergunta sem resposta que não me abandona: o que fazer, Luciana?

Morro de saudade das nossas conversas, do café da tarde e da alegria que era a nossa amizade.

Com carinho,
Sofia Dufour.

1 comentario:

Anónimo dijo...

É querida.. a vida é assim... longe de ser como se apresenta... Antônio é a pura felicidade... A demasia encarnada do desejo... É como não ter aquilo que sempre queremos ter!...ou mesmo não ter aquilo que se pode tentar ter... Uma pura insatisfação do desejo!... Deveras... quando o temos tudo perde a graça.. E, por isso o sentido das coisas nos é dado de maneira tão inatingível..intangível... Não obstante, ha de haver muitos Antônios e muitas versões de seu gênero... E, obviamente muitas Alices... Marias.. etc e tal...

Abraços querida...
Mari