telegrama de emprego

Aí assim, que ontem convocaram a minha pessoa a comparecer num "rh" desses da vida sobre um cargo, um emprego. Eu fui, que a gente tem que ir mesmo. Sempre a gente deve ir pra saber o que quer saber, se perguntou uma vez é porque quis saber, se compareceu uma vez é porque quis, uma vez. E tumultuada que estou, advém uma notícia excessivamente real. A moça-dona dos recursos humanos me contou desolada sobre uma candidata que ela foi chamar, mas a pobre havia falecido. A mãe deve ter ficada chocada, coitada da mãe, ela continuou, você sabe né, a filha já estava no doutorado e morreu. E morrem, as pessoas estão todas morrendo, eu pensei. Tudo não importava mais porque ali apareceu para mim a possibilidade do fim. Que um dia a gente descansa - é bom pensar assim - que um dia tudo isso acaba. Eu não perguntei quem era porque a notícia de morte que fui lá buscar já havia me sido nada. Deixe o nome dela descansar também. E não importava mais a folha de produção do mês que vem ou descobrir aquele seu desafeto na antesala do médico, frequentando o mesmo espaço que o seu, pedindo ela também cuidado para a mesma pessoa que você, ou até esses desesperos que colocam a gente desdormida a noite toda.

Hoje eu estive desdormida a noite toda.

Hoje eu fui encontrar com aquela moça-dona-chefe do rh para descobrir [ou relembrar] que nessa vida tudo tem um fim. Para ela poder me dar uma notícia dessas, essa moça-dona-chefe não podia ser muito ríspida, para isso também alguns chefes devem ser mais suaves.

Talvez nem fosse tão suave assim. Tinha bigode. E vá lá que mulher de bigode, minha filha, nem o capiroto pode. Mas estava suave. Cara de gente tranquila é bom nessas horas.

A mensagem do telegrama era essa - A inscrição que fiz há dois anos atrás, os estudos, os estudos, o medo da prova, o tempo passando depressa. Tudo isso para saber do fim.

A minha vó dizia que sabia a explicação da palavra Amém que encerra os textos da igreja que frequentávamos juntas:

"Que assim seja".