“Vai chover de novo. Deu na tv...”
A chuva manchou os meus papéis e pela primeira vez eu tive ódio da chuva, porque mal sabe ela o que me custou escrever esse texto turvo, cheio de remendos e mal pontuado, mas meu. Eu gostava da chuva porque ela havia me dado um chinês da mandchúria que me invadia e que me fazia acreditar na inexorabilidade da vida.
Hoje eu sei que se o maldito chinês da mandchúria me invade é porque eu deixo. Gosto agora de pensar que escolhi a invasão desse chinês pois, mesmo com todo o trabalho que tenho diante dos retornos dele em mim, sei também que ele me dá um ponto de partida quando a chuva parece levar tudo embora.
A chuva manchou os papéis e o meu texto se tornou ilegível, a imagem que fiz de mim.
Roupa preta, lápis no olho, cara sem blush, cara de blush, cara de bunda, cara fechada, corpo sem roupa, cara molhada de tanto chorar...de rir de mim. Tudo isso eu fiz para ter uma história para contar e a chuva mancha os meus papéis numa velocidade de dar dó.
Descubro que perder é muito ruim porque precisa ser rápido, não fosse isso eu perderia fácil e perderia a graça de ter um sintoma também, de chegar afobada, atrasada, cara de acabou de acordar, cara de mal dormida e mal humorada.
[Descobri uma praia que só funciona no fim da madrugada e que é só minha. Lá não chove]
Lembrar também que era muito mais engraçado perder do que ganhar. Hoje eu posso oferecer um nome comum e quatro sobrenomes. Vai...você escolhe, apesar de que outro dia eu descobria que todas queriam ser a Luciana P.
Enfim...quanta angústia eu inventei para ter história para contar, quanto mal entendido, quanta confusão no meu coração destemperado, quanta fantasia, quanto amor jogado ao léu e agora vem a chuva e mancha todo o meu papel? A mesma chuva que me trouxe um chinês, um lugar, uma história?
Quero morrer de ódio dessa chuva que me inunda, que me alaga, que destrói o meu barraco e me põe para correr em busca de um novo lugar, um novo abrigo.
Quero morrer de rir na chuva que faz o meu sertão virar mar, que me tira a seca, que me faz confundir se a água que bate no olho é só água que vem de fora ou se é lágrima de alegria.
Hoje eu quero toda a chuva que puder descer em mim para borrar meu batom, minha palavra, para destruir minha casa e me dar alguma possibilidade de começar de novo e mais uma vez.
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