domingo, enero 08, 2012

Estefânia

Eu havia esquecido completamente o quanto era prazerosa a atividade do desenho. Hoje fiz o primeiro esboço de Estefânia e fiquei me achando meio louca. Aproveitei a casa vazia, afinal o que pensariam as pessoas ao saber que agora, depois de vetcha, resolvi desenhar? Fiquei tentando lembrar a última vez que me propus um desenho. Acho que era criança, bem nova. Machuquei a perna da menina com as pétalas de uma florzinha de praia vermelha perdida entre tantas outras coloridas que uma vez comprei na vila rubim para fazer um arranjo de um vasinho português que minha mãe ganhou e me deu. Nunca fiz esse arranjo. Onde estaria agora o vasinho? Um laço de fita dourado de um embrulho de presente que jogaram no lixo compôs – muito bem, eu suponho - o vestido de Estefânia. Fiquei na dúvida se seria Stefânia ou Estefânia, mas não me detive muito na pergunta e escolhi começar pela vogal. As vogais me parecem letras de crianças e eu adoro. Nomear é delicado. Estefânia, ao final, me pareceu doce, frágil e cheia de dúvidas. Parece uma princesinha perdida no mundo cão. Acho que eu podia grafitar o fundo do desenho. Sabe aquela história de pichar o seu nome no escuro do meu quarto na solidão? Então. Depois de encher de desenhos, esboços, traços a pasta de nome Estefânia que fiz para esconder a minha nova atividade secreta quero comprar um painel, tipo aqueles de escola, e desenhar Estefânia bem grande. Encher um painel de Estefânia e dar um troco naquele menino enjoado da segunda série que não lembro mais o nome e que ficou rindo da minha cara porque desenhei de preto um urubu no painel coletivo das crianças. Acho que na época, eu queria dizer que aquelas crianças estavam todas mortas e que o urubu iria comê-las. Era um aviso. Acho que ele riu, porque não sabia fazer metáforas, coitado. Não sei ainda se Estefânia vai servir para que eu escreva melhor ou se eu escrevo sobre Estefânia para desenhá-la com alguma dignidade. Pode até ser as duas coisas. Senti vontade de encher o desenho com palavras, mas me reservei a uma nota apenas onde digo que Estefânia vem para colorir o preto do lápis no branco do papel do texto melancólico que insisto em escrever. Hoje descobri surpresa, por causa de Estefânia, que acho meu texto melancólico. Estefânia tem a perna machucada, mas é colorida e tem um adorno no cabelo feito de miçanga. Venha Estefânia.

1 comentario:

Árida dijo...

Estefânia é linda.