Na areia. Eu devia ter mais ou menos 13 e já pensava nessas coisas que eu penso. Eu me
deixava levar, melancoliquinha, febril, aborrescente do mar que não me devolvia
você.
O palito do finado picolé mini-saia riscava pra lá e pra cá,
fazia casinha na areia, fazia florzinha, coraçõezinhos flechados até adquirir
força e escrever, à revelia de mim, o seu nome próprio.
Todos quiseram saber. Eu era tão nova pro tribunal da Santa
Inquisição. Eu disse gente não é nada, tá tranqüilo. É só um nome, eu disse que
não existia ninguém.
Papai fez discurso inflamado, falou de paixão e de amor como
coisa que eu não soubesse.
Mamãe quis fechar a casa e voltar para onde, segundo ela,
não devia ter saído.
Eu queria você.
Decidiram que eu precisava me mudar para a cidade, que eu
precisava estudar, ocupar a cabeça com cultura, que eu era muito refinada pro
lugar, que iria morrer de depressão ali e tantas outras mentiras absurdas.
Meu desejo era tão rústico, tão simples.
Na areia. Eram quase 30, mas era como se eu tivesse 13, o palito
riscando para lá e para cá, fazendo casinha, fazendo florzinha, coraçõezinhos
flechados até adquirir força de novo. Seu nome próprio estampado para todos
verem e eu com cara de idiota é só um nome, não existe ninguém. Eu me
apaixonava de novo, teenagerzinha, irresponsável com o coração das gentes sérias que já sabem o que querem da vida.
Eu vou pedir que você me perdoe, se eu riscar o seu nome
do meu diário ou mesmo escrever em código nos muros da cidade. Não é menos amor, é só que não quero
sair de onde estou de novo. Quero ficar rústica dessa vez, quero ficar simples.
É só o tempo de eu aprender a esconder seu nome no meu
discurso, meu discurso no meu sorriso, meu sorriso no meu olhar, que o olhar,
coração, é o enigma das entrelinhas, é o segredo do hipertexto, é a onda da
praia apagando tudo tudo tudo até o seu nome próprio
da vista de quem não pode
nos entender.
1 comentario:
lindo lindo lindo.
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