domingo, febrero 24, 2013

casa de praia



Na areia. Eu devia ter mais ou menos 13 e já pensava nessas coisas que eu penso. Eu me deixava levar, melancoliquinha, febril, aborrescente do mar que não me devolvia você.

O palito do finado picolé mini-saia riscava pra lá e pra cá, fazia casinha na areia, fazia florzinha, coraçõezinhos flechados até adquirir força e escrever, à revelia de mim, o seu nome próprio.

Todos quiseram saber. Eu era tão nova pro tribunal da Santa Inquisição. Eu disse gente não é nada, tá tranqüilo. É só um nome, eu disse que não existia ninguém.

Papai fez discurso inflamado, falou de paixão e de amor como coisa que eu não soubesse.
Mamãe quis fechar a casa e voltar para onde, segundo ela, não devia ter saído.
Eu queria você.

Decidiram que eu precisava me mudar para a cidade, que eu precisava estudar, ocupar a cabeça com cultura, que eu era muito refinada pro lugar, que iria morrer de depressão ali e tantas outras mentiras absurdas.
Meu desejo era tão rústico, tão simples.

Na areia. Eram quase 30, mas era como se eu tivesse 13, o palito riscando para lá e para cá, fazendo casinha, fazendo florzinha, coraçõezinhos flechados até adquirir força de novo. Seu nome próprio estampado para todos verem e eu com cara de idiota é só um nome, não existe ninguém. Eu me apaixonava de novo, teenagerzinha, irresponsável com o coração das gentes sérias que já sabem o que querem da vida.

Eu vou pedir que você me perdoe, se eu riscar o seu nome do meu diário ou mesmo escrever em código nos muros da cidade. Não é menos amor, é só que não quero sair de onde estou de novo. Quero ficar rústica dessa vez, quero ficar simples.

É só o tempo de eu aprender a esconder seu nome no meu discurso, meu discurso no meu sorriso, meu sorriso no meu olhar, que o olhar, coração, é o enigma das entrelinhas, é o segredo do hipertexto, é a onda da praia apagando tudo tudo tudo até o seu nome próprio
da vista de quem não pode nos entender.

1 comentario:

Árida dijo...

lindo lindo lindo.