10 mentiras repetidas muitas vezes para 1 verdade inventada

(1)

Essa tal Amanda dá pânico no rádio, hora do almoço.

Eu fico rindo sozinha

(como posso gostar de coisa tão tosca?)

Meus requintes não me protegerão na hora que for pra valer

Não vai dar pra gargalhar, isso eu também sei

Melhor rir enquanto é tempo

Rir sozinha é interativo

(2)

Na estrada ele me deu passagem – mais uma vez – só para ver de que cor estava o meu cabelo

(preciso parar de mudar a cor do meu cabelo)

Dessa vez eu flertei também, que não sou de ferro

mas também não sou nenhuma rameira e devolvi a carteira que ele deixou sem querer (e eu acredito em papai Noel) cair no chão

(3)

A televisão diz que as mulheres boazinhas vão para o céu e as canalhas fazem massagem

Senhor, porque me abandonaste?

O que acontecerá comigo – pergunto aflita – que nem sou Maria e nem sou chacrete?

Você vai ter que inventar – me diz a voz off alta, loira, ex-jogadora de vôlei

(4)

Eu lembro do Chacrinha na TV do meu avô que ria e sentia culpa, digo, sentia falta de ar

Os asmáticos não suportam a felicidade, esses sim vão pro céu, são acometidos de faltas (de ar)

(5)

Gozo quando a voz off ordena: Inventa!

Eu não sou a tal, mas sou tal qual

Sua mãe não me perdoa

Diz até hoje que seu irmão brigou com você por causa de um rabo de saia

Honey, eu não sou tão gostosa assim

(6)

No caminho ele trocou meu pneu                                                   

Fiz cara de Lolita desamparada -sempre funciona – deixando a renda da calcinha aparecer:

“Nossa, moço, muito obrigada. Quanto lhe devo?”

Ele sorri sacana: “Tá bem pago, dona”

(7)

Tédio

(8)

Stupid people

Mais tédio

(9)

Horas gostaria de ser uma daquelas mulheres fatais da sociedade secreta Shandy. A mulher fatal do Vila-Matas. Nada mal.

(10)

Sonho. Morar à beira do Mediterrâneo, sozinha, mas com uma biblioteca infinita.

Cansei de ser a italiana tropical exilada nessa terra de ninguém

Capisci?

(11)

Lista

Dormir tarde

Acordar cedo

Vender minha força de trabalho

Perder minha juventude e sorrir cordial (ai)

Deixar Balzac passar a mão em mim, sem medo, feliz.

Gozar, quando der.

Morrer.