miércoles, enero 27, 2016

O outro, o mesmo

Meu psiquiatra é engraçado. Eu não soubesse bem a noção de transferência diria que me encontro completamente apaixonada e conseguiria uma grande confusão no meu casamento. Pergunto onde ele estudou psiquiatria. Ele sorri, matreiro, e reponde: "Em Barbacena". Depois completa que teve a oportunidade de ir à São Paulo ou ao Rio estudar, mas preferiu Barbacena que é a loucura concentrada. 

Diz que Barbacena é a coisa mais impressionante que viveu na vida. Esboça teorias acerca da concentração de gente louca e a que eu mais gosto de ouvir é a que advoga a favor da repetição. Durante anos e anos sendo os piores loucos - no que tange ao grau de loucura - para lá levados, o caminho não precisava mais ser ensinado. Eles voltariam à Barbacena como as tartarugas voltam ao mesmo lugar para desovar. Isso explicaria o fato dos loucos mais loucos frequentarem aquelas paragens. 

Ele diz que a loucura daqui é mansa, não é como a de Barbacena. Ambos fingimos que não percebemos o que significa o fato dele próprio ter se dirigido para lá, mesmo com a opção do Rio e de São Paulo no horizonte. 

Não posso deixar de observar que o fato dele me dizer sobre a loucura daqui ser mansa me autoriza voltar. É bom se sentir normal, sobretudo em momentos onde os sinais de vaguidão te ultrapassam e todos parecem ler na sua testa que algo não vai bem. Quando acontece deu cruzar com alguém na sala de espera, nem me importo mais porque sei que existe Barbacena. 

É terrível a sensação de calma proporcionada pelo fato de que em algum lugar desse mundo a desgraça se concentra e que você não é de lá. 

Da última vez, ao notar meu entusiasmo por Barbacena, disse que eu devia passar por lá, conhecer o local, que também trabalho com essas coisas e que uma ida lá poderia me instruir, que ele me recomendaria um passeio à Barbacena. 

Ambos fingimos que não percebemos o que significa o fato de eu me dirigir para lá, mesmo com a opção do Rio e de São Paulo no horizonte.

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