sábado, mayo 26, 2018

Precocidade


03:58 a.m - acordei assustada de um sonho estranho. Levantei e tranquei a porta. Uma ingenuidade: dos fantasmas não nos protegemos. As paragens de dentro não conhecem travas. 


Estou sozinha como nunca e já não acho tão bom. Pelo menos, tenho um projeto inteiramente novo pela frente e isso ninguém me tira, pois eu conquistei os meandros dessa existência. É meu, tem meu traço, meu tema, só sabe existir através de mim. 


Alguns copistas acreditarão que é fácil reproduzir tal feito. Desejo que eles possam ir em frente. Foi assim que eu inventei, tentando imitar um precursor, por mim eleito, e tropecei, lá pelas tantas, nessa novidade que te digo.


Quando você constitui sua própria matéria-prima para inventar o que seguirá tem um gosto inteiramente outro, eu suponho, se comparado a esses que vão em busca de seus elementos no mercado. Ou não. Vai saber. Cada um que testemunhe sobre si.


O que posso dizer é que meu feito deu trabalho: tive que produzir o leite da mãe que me amamentou. Não posso diminuir o que fiz. Muitos preferem morrer de fome diante da escassez. Fiz isso, muito provavelmente, porque não sei pedir ajuda. Coloquei minha arrogância a meu serviço. Sozinha como estava no mundo, sozinha como sou.


Lembrei que você passaria por algo semelhante anos antes. Foi isso que te ajudou a me esquecer? Ou vou mais uma vez entender que o caminho de cada um é singular?


“Oblié” - disse voz off, a certa altura da estrada, cada dia mais irritante. Fui ler “Funes, o memorioso” para ver se aprendo de uma vez por todas. 


Borges é meu compêndio médico. Bálsamo para um mundo doente. 



Mas ainda restou uma questão, que esse jato madrugal até toca sem responder e que te apresento de uma tacada: Por que alguns terão que inventar até mesmo a matéria-prima da sua invenção?

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