Alan me ligou de um
número desconhecido e, surpreendentemente, atendi. Assim que ele se apresentou
já mandei um porra, Alan, por que você não me mandou uma mensagem antes? Ele
disse que ficou com medo de eu não querer falar com ele. Na ligação, perguntou
o que eu estava vendo da janela do trem e eu disse que não estava dando para
olhar janela nenhuma, porque era hora de seguir em retidão, sem muita poesia.
Estava cheia de prazos e desgostos, embora uma novidade se constituísse. Ele me
perguntou sobre o lúpus e eu expliquei que estava regredindo, mas Alan sabe o
quanto os corticóides me deixam mal-humorada. Vi que ele queria assistir a vida
na janela comigo e só conseguiu dizer porra, você é foda, seu mal é esse,
quando eu disse que andava em retidão. Há dias sem conseguir escrever, depois
que acordei desse sonho com Alan, alguma coisa destravou em mim. Não perguntei
por que Alan mudou o número de telefone e eu também não apaguei da minha lista
o velho que agora apresenta a foto de um matagal com os seguintes dizeres at work. Vai entender... Alan é cheio de
história. Ele diz que é antigo, por isso prefere ligar e não mandar mensagem. Eu
digo que eu também sou antiga, mas que me adaptei. Explico para ele que é
preciso, minimamente, dançar conforme a música. Mas, Alan, se adianta em
deboche e diz minha querida, quem faz a música sou eu. Ele também costuma achar
que eu tenho sempre o dobro de anos a menos do que eu realmente tenho dele.
Acho que é um jeito de me infantilizar, de me tornar mais possível. Antes de
desligar, tive tempo de dizer que se, da próxima vez, ele aparecer com esse
sotaque ridículo, desse povo que se acha superior a nós, que vou desligar
instantaneamente. Saindo do primeiro dia de resfriado, consegui ligar o
computador e escrever um texto, meio mequetrefes, mas que já me libera para o
feriado sem tanta culpa. Obrigada, Alan.
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