Resquícios adolescentes. Meus diários, meus selos, minha coleção de lápis. Saberei contornar certas marcas sem me machucar? Como não parecer
tola frente à sociedade (de consumo)? Be a tiger. Como se finge ser o que já se
é? Como se faz pra fingir com sofisticação o que já se sente? Antecipo-me antes
de morrer de saudade do que não tivemos. Everybody´s talkin´ no meu filme
particular, Midnight Cowboy versão feminina. Caipirinha de limão charmosa em
Nova Iorque.
(1)
Eu tenho saudade do que não tivemos. Do dia em que te levei pela
estrada - a mesma que encontrava a casa onde cresci. As praias, eu ia dizendo o
nome de cada uma delas. Você ria perguntando debochado se eu falava indígena
também. Eu te explicava, sóbria, que achava difícil negligenciar os códigos de
um lugar por onde já havia passado. Então cantarolava...
“tumtumjacutinguelê
tiscatunga araruê
Tiscatunga tinga
Araruê cerumberumbá
Tiscatunga araruê
Tiscatunga tinga”
Você me perguntava o que era, impressionado. Eu dizia não saber para não
te assustar, lembrando Susane VZ que alertava sobre os homens não suportarem
por muito tempo mulheres inteligentes, mas eu sabia sim.
Be or not to be a Tiger?
Eis-me. A questão não é o tempo. A questão é outra, bobo.
(2)
Parávamos então na porta da escola onde estudei. Os tubos coloridos no
canto do pátio. Cores primárias. Amores primários. “Era ali meu esconderijo na
hora do recreio”, na hora de enfrentar a perversidade das gentes pequenas.
“Turma hora de entrar. Alguém viu a ...?”
Carrego comigo os recreios nos tubos coloridos que nunca fui dada às
multidões.
Mas com você é diferente. Você tira as multidões de letra, não é mesmo?
Só minha música particular você não tira. Nem se eu te cantar minha
letra preferida, nem assim. Nunca vou poder te dizer, preferido.
Tempo fechando.
Você me perguntava o que estava acontecendo? e eu cantarolando de novo “milhões
de frases sem nenhuma cor”, baby, te avisei.
Você não se aborrecia comigo
E eu não tinha vergonha com você.
[mais estrada]
(3)
Uma praia de nome indígena. “Que significa?” Não sei (fazer cara de não
sei, nunca ameaçar o macho alfa).
Tá vendo aquela casa? Virei mulher bem ali naquela escada, eu só tinha
tantos anos e eu não senti nada de dor. As meninas falam que sentem dor, porque
sentem culpa de sentir prazer, mas comigo não foi assim. Foi nada de dor, foi
bom e só. Foi um amor? Não, que nada. Foi bom e só, já falei.(...)
[mais estrada]
(4)
De repente frio e o carro virava para o sul daquele estado
automaticamente.
E, a partir de então, sempre muito frio: maneira de manter a
temperatura ótima do lugar
de onde eu nunca devia ter saído.
[barulho de chuva na estrada]
1 comentario:
esse consegue ser o mais lindo de tantos outros.
saudades de Susane VZ.
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